[Momento ‘Caras’ e ‘Bundas’… ou vocês pensam que a mocinha aqui só pensa em meio ambiente, fazer poesia e refletir sobre a vida? Pois é, Rodrigo Santoro está solteiro novamente, garantem as matildes de plantão, e eu aqui morrendo de arrependimento. Já faz um tempo que tudo aconteceu… Será que ele se lembra? Rodrigooooooooo, eu também estou solteira nêgo!]
Foi numa época em que ele era um garoto franzino, mas já prometia tornar-se este ‘mau caminho’ inteiro de hoje. Para evitar maiores frustrações, quando me vi naquela inusitada situação – nosso avião despencou dos céus e eu me salvara do acidente junto com ele – decidi optar pela indiferença, já que estávamos só nós dois assim ‘lost’ naquele pedaço desconhecido do mundo. Calado e desconfiado, ele parecia um bicho de 7 cabeças e, certamente, sentiu grande alívio ao me ver fingindo que ele era um Zé ninguém. Eu, ao contrário, fazia enormes sacrifícios para deixá-lo em paz enquanto me beliscava prá conferir a veracidade da situation.
O tempo foi passando e devido à vida dura, aquele jovem magrinho foi ficando forte, bronzeado, com um ar selvagem, barba mal feita e um aroma corporal hiper natural. Estas coisas de ilha deserta, onde a vida não é nada fácil. Sair à procura de alimento, subir em coqueiros, procurar lenha, fazer fogo, carregar pedras, pescar, cozinhar, tentar construir jangadas e montar cabanas improvisadas que o vento insistia em derrubar. Eu estava me sentindo a própria mulher das cavernas e ele já pensava em puxar meus cabelos, reflexos do isolamento, solidão a dois, sol na cabeça e muito frio durante a noite.
Impossível não criar intimidade numa situação destas, a batalha diária para manter-se vivo nos aproximou. Já estávamos íntimos mesmo, aquela intimidade da convivência, de cooperar, de rir junto, de se aborrecer e brigar também. Em determinados momentos era difícil entrar num acordo, meu jeito controlador se irritava com aquela personalidade leonina de estrela “sei tudo, sou o melhor”, apesar da leve modéstia que no fim tudo salvava. Mesmo assim era excitante esta guerra de egos que aproximava muito mais que afastava. Já sabia que ele roncava horrivelmente e ele era vítima de meus pontapés noturnos, tudo na mais santa convivência…
Muito trabalho de dia e noites estreladas, lua no céu, papo na areia junto à fogueira, ou noites úmidas de muita chuva e frio com direito a abraços necessários, fortes e quentinhos. Ocupávamos nosso tempo livre em contar nossas histórias de vida um para o outro. Vários ‘climas’ tinham pintado, beijos, mãos bobas, outras nem tanto, e só! Para quebrar o gelo, nem música, nem álcool, nem qualquer espécie de droga, só a fome dos hormônios que crescia a cada dia. O que foi?!! Estão pensando que estou na Lagoa Azul!?? Nananinanão! Nada de olhos azuis, cabelos louros levemente despenteados, nem maquiadores e figurinistas de Hollywood. Certos dias eu queria morrer, aquele cabelo que parecia uma palha, a pele nem se fala, as unhas uma lástima, e a depilação… que depilação fia!? Nestas horas, lógico que eu evitava pensar em Luanas e Ellens. Socorro! Era o que eu queria gritar.
Foi num destes dias quando eu sonhava com o mundo maravilhoso da cosmética, que Rodrigo parecia mais ousado, um olhar faminto e o ar pairava elétrico, carregado daquela energia masculina que faiscava. O dia foi uma lástima, várias discussões, o vento destruiu a cabana, eu estava uma pilha, ele sem paciência, ambos irritados. Eu pensava em cremes, máscaras faciais, massagens capilares, numas sessões de massoterapia e yoga. Estava de saco cheio de dormir mal, acordar cheia de areia pelo corpo, com a pele irritada e fustigada pelo capim, de usar pedras para lixar as unhas ou aparar cabelos e usar plantas xerófilas para massageá-los inutilmente, além daquela polpa de coco melificada numa tentativa mirabolante de hidratar a pele. Pqp, como mulher é um bicho chato, sofre à toa!! Enquanto isso, ele contentava-se em prender o cabelo com um fio de palha, aparar a barba com lascas de pedra e continuava lindo, perfeito e selvagem com aquela pele áspera e bronzeada, aqueles músculos naturalmente adquiridos e na cabeça a única preocupação que ocupa a mente masculina, toda vez que me olhava semi nua dentro daqueles farrapos que restaram da minha roupa.
Aquela noite caiu pesada e abafada, um calor terrível, meus seios doloridos e inchados, uma cólica insuportável, aquele monte de areia sobre a palha, os mosquitos zunindo no meu ouvido e picando meus tornozelos, uma irritação crescente com tudo à minha volta, uma p*** vontade de gritar e chorar. Faltava nada para eu explodir no vulcão da minha tpm, quando ele veio se encostando em mim, tocando meu pescoço e afastando meus cabelos com a ponta do nariz, não agüentei e bradei irritada: “putz, que calor insuportável, dá para você deitar lá do outro lado?” Ele me olhou abismado e ainda tentou ensaiar uma insistência, mas eu me sentia um bicho, olhei feio e o empurrei sem paciência. Acreditam (a criatura aqui tinha pirado na batatinha)?!!
Fui dormir, e ai de quem tentasse me dissuadir disto!
Ao abrir os olhos na manhã seguinte, pensei que tinha surtado, olhei para o lado e ele não estava lá, mas ‘pollyanamente’ na insanidade da tpm me conformei, estávamos perdidos mesmo ali, quem sabe para sempre, daí pensei: “ah, melhor assim, só porque ele é o Rodrigo Santoro e ‘se acha’ está pensando que vai ser fácil (humptf) ?!!”
Mais um dia começava e, perto da praia, ele fitava o horizonte, eu o observava de longe tentando escapar de sua ira masculina. De repente ele gritou, apontando: “um barco, olha, ali!”, veio correndo, me abraçou empolgado e disse “estamos salvos!”. Rimos nervosos e começamos a gritar, pular, abanar as mãos, fazer sinais de fumaça. Por sorte o barco passava nas proximidades da costa e nos viu.
No momento que o homem tentava ancorar perto da praia, minha ficha caiu… Quando ele desceu e veio ao nosso encontro, mordendo os lábios eu quase disse: “oh moço, dá para voltar mais tarde?”
Rodrigo ria quase sem acreditar na possibilidade de voltar para casa, eu tentava parecer feliz (sorriso amarelo sem graça), mas na verdade queria era chorar só de pensar na noite anterior. Pqp, que salão de beleza que nada!! Maldita tpm! Burraaaaaa!!
Será que o mesmo raio cai duas vezes no mesmo lugar??
[Gente, eu juroooo (dedos cruzados nas costas) que é verdade!] 😀
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