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Huumm, gosto desta discussão sobre o comum, o prosaico.

Não sei bem, mas percebo que as pessoas hoje em dia precisam de glaumour, de sofisticação, de beleza, do esteticamente perfeito, das sensações produzidas e socialmente aceitáveis, de tudo muito arrumadinho e uma “obrigatoriedade” de ser feliz…

Puxa, mas a poesia está na vida, no feio ou no bonito – não importa, no cotidiano extenuante, no sorriso daquelas crianças que mesmo obrigadas a deixarem de sê-lo, obrigadas pela miséria e pela fome, a ‘trabalharem’ nas ruas, ainda guardam nos olhinhos aquele jeitinho inocente e sonhador, triste e sofrido infelizmente, mas infantil.
A poesia da miséria, do infortúnio, da pobreza … da crueza … sim ela tá aí, todo o tempo se ‘esfregando’ em nós, e a gente faz pouco caso, menospreza …. Estranhamente insensível a tudo isto.

Escrever isto me fez lembrar o que um amigo uma vez falou prá mim, fazendo um comparativo entre as dondocas muitas vezes estressadas e as empregadas domésticas sorridentes, que estas trabalham cantando, estão sempre rindo, não se preocupam se estão gordas, não se acabam de malhar, estão nem aí prá leitura, toda noite vêm sua novelinha ou então vão lá no muro da esquina, no escurinho dar uns amassos com o namorado porteiro e por aí vai … sem estresses.
Prá eles é alegria, é astral, é felicidade, não somos nós, baseados nos nossos valores que vamos dizer o que é certo ou errado pros outros. O mundo é plural.

Uma coletânea de campanhas criadas por ONG’s abordando a maioria dos problemas que afetam a sociedade contemporânea, como pobreza, fome, produção de lixo, alterações climáticas, violência contra mulher, pedofilia, violência no trânsito, direitos humanos, bulimia…
Um alerta impressionante  que nos toca profundamente através de imagens impactantes combinadas a textos objetivos. Muito bom!

[ para ver em tela cheia, na barra inferior do vídeo, clique em “Menu” e escolha “View Fullscreen”, e no final aperte a tecla “Esc” para voltar ao Blog]

Um dos melhores filmes que assisti esse ano, e olha que já vi muitos.
Estética e tecnologicamente desafiador, não espere um desenho bonitinho e convencional, nem efeitos especiais mirabolantes. Nesses tempos de 3D, se você consegue se libertar por algumas horas dos padrões estéticos dominantes e permitir se aventurar na “feiura” [eu gostei da estética, além de tudo achei necessária à consistência da história] proposital, na beleza implícita e delicada, na narração inteligente fazendo dupla com os enquadramentos sutis, na trilha sonora envolvente e irretocável, não sentirá falta de nenhum recurso mais moderno, afinal os recursos aqui são outros, eles contam principalmente com sua sensibilidade e perspicácia. Prenda-se aos detalhes!

O filme conta a estória da amizade entre duas criaturas separadas pela distância e idade, mas unidas pela solidão e sensibilidade, pelo gosto por chocolate, pela mesma série de TV, por cores sem alegria e pela ausência do sorriso. Uma crítica mordaz e criativa, ao mesmo tempo bem humorada e triste sobre a “frieza” das relações interpessoais, as fobias, os vícios e incongruências da sociedade contemporânea. Sem esquecer em alguns momentos de dar umas cutucadas nas questões ambientais.

Ela é uma garotinha com olhos cor de lama, um sinal de nascença cor de cocô, que vive na Austrália e adora leite condensado. Solitária, pobre, filha de uma mãe alcoólatra e de um pai mecanizado e apagado, tem como únicos companheiros os brinquedos que ela mesma faz com restos de lixo, um vizinho fóbico e um galo que escapou do matadouro. Apesar dos pesares, sua aura ingênua, própria das crianças isentas da maldade, nos encanta; seu caráter nato, indo contra todo o exemplo familiar, nos surpreende. Mary, determinada e otimista quase sempre, é apaixonada pelo seu vizinho grego e persiste na busca da amizade palpável e verdadeira.

Ele é um homem de olhos pretos, um “aspie” que odeia quem joga bituca de cigarro no chão, anti-social e avesso à civilização cujos hábitos são danosos e extremamente contraditórios segundo seu ponto de vista. Talvez pense assim porque vive em Nova Iorque, uma cidade, a seus olhos, tremendamente desumana e caótica. Consequentemente tornou-se solitário e incapaz de cultivar amizades, pelo menos a curta distância. Filho de mãe violenta e pai suicida, judeu, virgem, chocólatra e obeso, seu círculo de relacionamento se resume a uma vizinha cega que ocasionalmente cuida dele e um amigo invisível. Max sofre de síndrome de Asperger e vai ao psiquiatra regularmente, que para ele é quase como um pai.

A amizade dos dois se desenvolve à distância e nessa busca pelo afeto, apesar de suas limitações, conseguem ajudar-se mutuamente, como se emprestassem seu modo de ver o mundo um ao outro. Mesmo tendo horizontes limitados e problemas sérios, conseguem ampliar suas perspectivas, através da influência positiva e mútua que exercem no crescimento pessoal de cada um. Essa interação surpreende, causa  espanto, alegria, mas também dor, e nesse detalhe se esconde a beleza do filme. A constatação de que a imperfeição é natural, o quanto é tola a mania de buscarmos a perfeição no outro, nas coisas e em nós mesmos, e como isto pode nos fazer infelizes e interferir na nossa evolução.

É uma história sobre aceitação, sobre o verdadeiro sentido de afinidade e parentesco. Sobre estar perto, mesmo estando a quilômetros de distância. Um filme baseado em fatos reais que nos ensina sobre amizade e o sentido da vida: uma longa calçada a ser percorrida na maioria das vezes sozinho, para uns muito bonita, limpa, acessível, pitoresca e sem obstáculos, para outros, nem tanto. Mas isso não aumenta nem diminui ninguém.

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Este filme já ganhou pelo menos sete prêmios. Entre eles, o Urso de Cristal de Menção Honrosa ao Cinema Juvenil Generation 14+ no Festival de Berlim, o Grande Prêmio do Festival de Animação de Stuttgart, o de melhor roteiro no Prêmio Queensland Premier’s Literary e o Grand Cristal no Festival de Animação de Annecy.
Não perca, afinal existe vida inteligente além da Disney e Pixar!!
Visitem o site do filme … É um arraso!

É, o tempo passa…

…E a gente descobre que é impossível evitar:
* usar óculos prá perto
* esquecer de coisas óbvias
* aquela sensação de “déjà vu”
* a debandada dos hormônios

* a invasão dos fios brancos
* a lei da gravidade

…E passa melhor se a gente não perder:
* a impetuosidade
* a fome de aprender
* tempo com coisas irrelevantes
* a vontade de chorar por tudo ou de rir por nada
* o desejo à flor da pele
* a coragem de confessar inconfessáveis “segredos”
* o tesão pela vida

Estar mais velho, inevitável.
Perder a juventude, uma escolha.

cruzamento 5th Avenue com 53rd Street - NY

Olha a conversa…

A: – Que calor que anda fazendo, hein! Como está quente aqui em Salvador!

B: – Verdade. Nunca as temperaturas foram tão altas, está quente demais… insuportável ficar fora do ar condicionado.

A: – Do jeito que vai, meus bisnetos vão queimar vivos. (rindo)

C: – Seus bisnetos? Acho que seus netos é que vão torrar!

B: – Está mais quente a cada ano, mas este aquecimento faz parte da rotina do planeta, né? De tempos em tempos acontece.

A: – É isso mesmo, a gente não tem muito o que fazer…

D: – É um ciclo que se repete mesmo, a gente não pode fazer nada.

(silêncio de alguns minutos)

B: – Vocês viram quanta gente morreu no Chile? Aliás, quanta catástrofe nos últimos meses: São Paulo, Cuzco, Ilha da Madeira, litoral do Rio… A bruxa tá solta.

(todos concordam)

E ninguém tem nada com isso… Aliás, a culpa é da bruxa.
Pois é.

………………..

Aproveitem e dêem uma olhadinha neste slideshow com imagens feitas por alguns artistas mostrando como ficariam as grandes metrópoles, como New York e Japão, caso o nível do mar subisse apenas alguns centímetros (a imagem do post faz parte deste slideshow).

Árido

Publicado: 22/07/2009 em poesia, reflexões
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quando ela chegou
com o aroma das flores
trouxe perfume e cor
à sua vidinha árida
de deserto sem oásis

agora sozinho se perguntava
contemplando ao redor
daquele campo desfolhado
se teria sido pura ilusão

tudo parecia lavado
por um detergente biodegradável
restaram apenas
vestígios de espuma
e algumas chances de semente

(foto: Manuel Sardinha)

Trailer do filme HOME, nosso planeta, nossa casa (um documentário de Yann Arthus-Bertrand) que  foi filmado em 54 países e será lançado mundialmente hoje (05/06/2009) em mais de 50 países, com dublagem em 14 línguas. Numa sequência única de imagens tomadas num vôo sobre o planeta, o diretor reflete conosco sua preocupação diante da crise ambiental mundial, fazendo da película uma espécie de alavanca para ações que mostram-se urgentes e necessárias para revertê-la.

Vendo este trailer lembrei-me do post do ano passado quando questionei nosso comportamento diante da crise ambiental; resolvi não mais perguntar e sim mostrar algumas estatísticas um tanto pessimistas, mas reais.

Porque faço isto? Talvez para chocar, para gerar questionamentos. Por acreditar que é principalmente pela educação e massificação deste tipo de  informação que conseguiremos desencadear um movimento, mesmo que pequeno inicialmente, pela mudança neste cenário crítico.  Acreditando, mesmo contra todas as estatísticas, que é possível.

Veja o filme, está nos cinemas e disponível on-line também, a idéia é disponibilizá-lo para todos, pagantes ou não, visto a importância da mensagem.
Num vôo surpreendente, onde o expectador é colocado como observador crítico, seu objetivo é
convencer o maior número de pessoas da  responsabilidade individual e coletiva em relação ao planeta, através de uma sucessão de imagens contrastantes e impactantes.
UPDATE: em Salvador, está sendo exibido na Sala de Arte da UFBA

E complementando… mais algumas informações sobre a crise ambiental:

– 20% da população mundial consome 80% dos recursos do planeta.
GEO4, UNEP (Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente) 2007

– O mundo gasta doze vezes mais em armas do que em ajuda de desenvolvimento de países.
SIPRI Yearbook, 2008 (Instituto Internacional de Pesquisa em Paz de Estocolmo)
OECD, 2008 (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)

– 5.000 pessoas morrem todos dias por beber água poluída. Um bilhão de seres humanos não têm acesso à água de beber salutar.
UNDP, 2006 (Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas)

– 1 bilhão de pessoas passam fome.
FAO, 2008 (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação)

– Mais de 50% do grão comercializado ao redor do mundo é usado para ração animal ou biocombustíveis.
Worldwatch Institute, 2007
FAO, 2008

– 40% da terra cultivável é degradada.
UNEP (Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente), ISRIC World Soil Information

– A cada ano, 13 milhões de hectares de florestas desaparecem.
FAO, 2005

– 1 mamífero em 4, 1 pássaro em 8, 1 anfíbio em 3 estão ameaçados de extinção. As espécies estão desaparecendo mil vezes mais rápido do que o ritmo natural de extinção.
IUCN, 2008 (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais)
XVI Congresso Internacional de Botânica, Saint-Louis, USA, 1999

– 75% dos produtos da indústria pesqueira estão extintos, esgotados ou em risco de extinção.
Fonte ONU

– A temperatura média dos últimos 15 anos tem sido a mais alta desde o início de seu registro.
NASA GISS data
http://data.giss.nasa.gov/gistemp/graphs/Fig.A.txt
http://data.giss.nasa.gov/gistemp/graphs/Fig.A2.txt

– A calota polar perdeu 40% de sua espessura em 40 anos.
NSIDC, National Snow and Ice Data Center (Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo), 2004

– Poderá haver 200 milhões de refugiados do clima em 2050.
The Stern Review: the Economics of Climate Change
Part II, Cap. 3, pág. 77

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“Os homens aparentam a vida que levam, talvez todos nós aparentemos. Seus rostos e corpos confirmam o trabalho pesado. Todos são esguios, sem um quilinho de gordura a mais. Parecem curtidos pelo sol, de um bronzeado tão profundo, que provavelmente nunca fiquem páldos no inverno. Suas roupas de trabalho são práticas, grosseiras. Eles não se arrumam, apenas se vestem. Portam também uma dignidade natural. Sem dúvida, alguns são espertalhões, insensíveis, cruéis, mas parecem totalmente presentes, abertos, vivos. Faltam dentes a alguns, mas eles riem à vontade, sem constrangimento. Um menino retardado perambula entre eles, sem que cuidem dele e sem que o ignorem.” (sobre as pessoas do campo – no livro SOB O SOL DA TOSCANA)

tarsila-operarios

O trecho fala de algo tão básico na vida e ao mesmo tempo tão fora de uso: naturalidade e simplicidade. O tema me veio à cabeça outro dia no trabalho quando falávamos de Susan Boyle. Depois de assistirmos o vídeo onde ela se apresentava no “Britains Got Talent” e era ridicularizada pelos jurados e público, aparentemente por ser gorda, feia, ter apenas 46 anos e aparentar quase 60, nunca ter casado, não ter namorado e mesmo assim, sorrindo sempre, dizendo-se feliz. O tom de deboche continuou até ela começar a cantar; a voz era sublime, emocionante. De repente todos calaram, pasmos e extasiados. Uma coisa não combinava com a outra. Quem é feio está fadado ao fracasso, quem é feio não pode ser feliz; parecia ser esta a confusa indignação de milhares de pessoas diante da imagem e da voz de Susan Boyle.

Hoje em dia (leia-se final do sec. XX e início deste), muito mais que em outros tempos, estar fora dos padrões ditados pela sociedade é a pior das pragas, principalmente os de beleza e riqueza. Porque naturalidade e simplicidade adquiriram status de errado? Porque vivemos numa louca corrida atrás de uma suposta felicidade que se traduz sempre na posse material e na busca de uma aparência perfeita e artificial?

Uma colega do trabalho ao terminar de ver o vídeo da Susan disse: “nossa! e ela se diz feliz. mas com tão pouco…?” 
Qual a medida da felicidade? Muitos de nós crêem ser dinheiro e beleza.
Beleza é fugaz, inevitavelmente ligada à juventude que um dia nos abandonará. A posse material gera mais insatisfação do que prazer, a cada aquisição nos sentimos mais vazios e desejamos consumir mais. O resultado disto tudo é a produção de mais e mais infelicidade à medida que perseguimos seu oposto. Nesta corrida, esquecemos o cultivo diário de nossa espiritualidade, de cuidar do conteúdo da nossa “embalagem”; esquecemos que paz interior não se compra nem está vinculada a uma bela aparência. Vocês podem me achar piegas e previsível, mas a verdade é que relegamos valores simples e tão intrínsecos à nossa natureza em nome de uma corrida vazia e desenfreada rumo à superficialidade.

Resultado?
Uma legião de pessoas “bonitas”, “ricas” e terrivelmente insatisfeitas. Não aquela insatisfação saudável que nos leva ao crescimento, mas aquela doentia e cega que nos tolhe a capacidade de enxergar além das aparências.

( imagem: Operários – Tarsila do Amaral )

aaaaaaaaaaa-sorry

Encontrei esta foto outro dia aqui, o que me fez lembrar desta outra aqui. Tudo isto traz de volta a velha pergunta que não quer calar: o que está acontecendo com os homens?
Mais um domingo na praia e algumas mulheres encontram-se por acaso; idades e ocupações diversas e repete-se a pergunta como num côro. Descobrir a resposta já seria tema de pesquisa científica e não é isto que pretendo agora. O problema é que toda esta situação se intensifica quando colocamos mais um ingrediente no caldeirão: o número de mulheres heteros e solteiras é infinitamente maior que o de homens na mesma condição. Este superavit gera uma carência feminina coletiva, quase uma calamidade pública.

O que fazer? Existem algumas alternativas sendo praticadas, como importação de namorados ou os sites de relacionamento (nem sempre confiáveis) que praticam o livre comércio do “amor ao seu alcance”. A primeira alternativa, mostra-se depois de algum tempo muito onerosa, um amor via ponte aérea que se inviabiliza pela distância/ausência e acaba com os dias contados; já a segunda traz inúmeras frustrações, além da possibilidade de golpes e enganos. Em paralelo, ainda existe toda uma questão comportamental, ou seja, as relações hoje em dia se esbarram na crescente propagação do individualismo que dificulta o envolvimento verdadeiro entre as pessoas. Estamos cada dia mais blindados, mais exigentes, mais auto-centrados e infelizmente, mais carentes. Estamos num beco sem saída, onde entramos por livre e espontânea vontade, mas de onde não conseguimos sair, apesar da urgente necessidade.

E foi divagando sobre tudo isto e andando por aí que descobri dois textos ótimos, um do Marcelo Gleiser e outro do Inagaki, que tratam de amor, tecnologia e solidão. Uma mistura com cara de ficção científica, mas que diante de um cenário amoroso tão desanimador estampa-se como uma terrível solução – amor e sexo com robôs.
Será que estamos predestinadas à solidão e por conseguinte a forjarmos artificialmente companheiros sob encomenda? Ou será que esta carência/falta a que somos impostas atualmente não seria um aprendizado sobre o verdadeiro sentido de amar?


[ Já existe um livro sobre o tema, veja:  LOVE + SEX with ROBOTS ]